Farturas, lombinhos e bolachas: 3 sabores a não perder na Feira de Sant’Iago

Os setubalenses já os conhecem “de ginjeira”, mas vale sempre a pena recordar as histórias por detrás de alguns dos negócios de comes e bebes mais antigos da Feira de Sant’Iago, e que ano após ano nunca passam de moda.

É caso para dizer que não há feira que não dê em fartura. Mas entre as quase dez rulotes de farturas que marcam presença na Feira de Sant’Iago continuam a destacar-se as Farturas da Luizinha, dê por onde der. E a fila de espera fala por si. A partir da hora de jantar e até ao fecho do recinto, é vê-la estender-se pela feira, como se já fizesse parte da experiência de ir comprar uma ou mais farturas à Luizinha. O negócio, na verdade, começou há mais de 40 anos pelas mãos de Luiza Arriola, de origem espanhola, e Manuel Pereira - casado com a neta da D. Luizinha, Esmeralda Pereira - é quem gere esta quarta geração, com os filhos a ajudá-lo também. Na rulote opera a seringa da massa, enquanto a equipa, de mais cinco pessoas, mantém a cadeia de produção a funcionar para entregar a fartura sempre quente – com mais ou menos açúcar e canela – e envolta num guardanapo, ou em caixas de seis unidades. Quem prova, diz que as farturas da Luizinha não são enjoativas, e isso deve-se à forma como Manuel frita a massa: a cerca de 190 graus, e durante tempo suficiente para que a massa frite em vez de cozer. “Isso faz com que a fartura fique sempre sequinha”, conta o fartureiro, que tem sempre um sorriso pronto para cumprimentar as pessoas. Algumas vão lá há mais de 30 anos e muitas delas levam para casa caixas de meia dúzia de farturas, para as comer também no dia seguinte ao pequeno-almoço. Tradição é tradição.

A tradicional fartura pode bem ser a sobremesa de um jantar no Bar Séninho, outro dos negócios emblemáticos da Feira de Sant’Iago. Existe há mais de 30 anos – agora sob a gestão de Arsénio Inácio, filho do fundador – e é também daqueles locais para comer e beber que estão quase sempre cheios todos os dias. O nome Séninho nasceu, precisamente, do diminutivo de Arsénio. E a fama do Séninho pode explicar-se por vários motivos, nem que seja por ser tradição ir lá jantar. Uma refeição que, sem ser elaborada, tem o seu quê de especial: afinal de contas, trata-se de lombinhos de carne servidos num pão, em prato de plástico, e com uma imperial sempre bem tirada (em copo de vidro). Na chapa, Arsénio só grelha carne fresca, nacional, que uma vez no ponto é envolvida numa “margarina com um toque especial de tempero”. Como quase toda a gente pede os lombinhos com cerveja, a equipa de jovens que o ajudam não tens mãos a medir, gerindo o atendimento com uma incrível capacidade de memória e rapidez. O Bar Séninho é também, por estes motivos, um ponto de encontro dos setubalenses na Feira de Sant’Iago - e um dos mais concorridos espaços para jantar e conviver ao som da música da feira.

Noutro ponto do recinto encontra-se a secular Bolacha Piedade, símbolo da doçaria setubalense. Nascidas em 1855, estas bolachas começaram a ser vendidas de forma ambulante por miúdos, que as levavam num tabuleiro pendurado ao pescoço e gritavam pregões a anunciar a iguaria. A figura deles surge representada no logotipo da marca, de cor vermelha, e ainda hoje é lembrada pelos setubalenses. Mas afinal, a que se de deve tamanha popularidade? Até 2003, só se podia comprar as bolachas Piedade no stand da Feira de Sant’Iago, durante duas semanas, e isso fazia com que muita gente se abastecesse de bolachas para um ano – a validade que lhes é comummente atribuída - e ficasse a salivar por mais. Daí para cá a marca abriu uma pastelaria na Avenida Luísa Todi, permitindo comprar bolachas todo o ano, mas não é por isso que o espaço na feira - com uma esplanada vermelha e azul original de há 50 anos – tem menos filas de clientes. Quem lá for encontrará, certamente, Arnaldo Pereira, ele que é casado com uma das três filhas da fundadora da marca – Delfina, Isabel e Gabriela – que hoje asseguram a sexta geração do negócio. A produção, essa, está concentrada na pastelaria. É lá que a massa é misturada com a erva doce que lhe é tão caraterística e depois estendida, cortada a olho e colocada a cozer no forno durante 15 minutos. No final, as bolachas são besuntadas com manteiga e já estão como se querem, rijas e estaladiças, sendo encaminhadas para o stand na Feira de Sant’Iago. Segundo contam os responsáveis pelo negócio, só os homens é que as vendem – as mulheres guardam a receita religiosamente há seis gerações. E ainda bem.